CACHOEIRA CAMPEÃ DO INTERMUNICIPAL
Por Erivaldo Brito
O campeonato cachoeirano de futebol do ano de 1967 foi, sem dúvida, dos mais interessantes e disputados, devido à inclusão do time do Comercial da vizinha cidade de Muritiba. Com a Cachoeira inscrita para disputar o X Torneio Intermunicipal daquele ano, - volvidos, creiam, 44 anos-, a Comissão Técnica da seleção composta por Erudílho Bastos, -Morenito- e Gerson Duarte, convocou 33 jogadores, (mais adiante em ordem alfabética), que foram devidamente registrados juntos à Federação Baiana: André, Badaró, Balaio, Babão, Careca, Coqueiro, Cal, Carlyles, Cueca, Ceguinho, Caçulinha, Curió, Deca, Emanuel, Juracy, Kid, Luciano, Mario Codorna, Marrom, Marivaldo, Nica, Naguerete, Orelha de Coelho, Passarinho, Paiva, Penedo, Rabicó, Roque Minha Rola, Sacramento, Tião, Vadinho, Zé Melo e Zé Fernandes. A vitoriosa campanha do selecionado cachoeirano se deu da seguinte maneira:
DATAS JOGOS
1967
Dez. 07 Cachoeira 3 x 2 Maragojipe
24 Cachoeira 2 x 1 Nazaré
1968
Jan. 07 Cachoeira 1 x 1 Santo Antonio de Jesus
14 Cachoeira 3 x 0 Cruz das Almas
21 Cachoeira 2 x 2 Maragojipe
28 Cachoeira 5 x 0 Nazaré
Fev. 11 Cachoeira 4 x 0 Santo Antonio de Jesus
18 Cachoeira 1 x 0 Cruz das Almas
Mar. 24 Cachoeira 5 x 1 São Francisco do Conde
31 Cachoeira 2 x 1 São Francisco do Conde
Abr. 07 Cachoeira 1 x 1 Feira de Santana
14 Cachoeira 2 x 2 Feira de Santana
21 Cachoeira 3 x 1 Feira de Santana
28 Cachoeira 0 x 0 Jequié
Mar. 05 Cachoeira 0 x 0 Jequié
Como nos dois jogos realizados entre os dois selecionados, (um disputado em Cachoeira e o outro em Jequié), terminaram empatados sem que houvesse marcado algum gol, a Federação decidiu que, o jogo decisivo seria disputado em campo neutro, no caso, no saudoso campinho da Graça, na capital baiana, no dia 16 de maio de 1968.
Naquele domingo, devido mesmo à proximidade da capital, várias foram as caravanas que saíram da Cachoeira a fim de torcer pelo selecionado, embalado pela Charanga da Minerva Cachoeirana.
A seleção de Jequié, embora carecendo de uma grande torcida a seu favor, era muito bem treinada e possuía valores individuais do quilate de Edmilson, Zé Augusto, Potó, Tanajura e Marcos. Muitos dele se profissionalizaram depois.
Relembrando a partida, lembro que foi disputadíssima, havia chovido uma poça d’água impediu um gol do selecionado cachoeirano, o setor defensivo era muito bom, tinha Deca, Zé Fernandes, Balaio e Paiva, além do excelente goleiro Vadinho. Por falar nele, era um drama a sua liberação para jogar por parte do seu pai, seu Osvaldo, sendo necessária a interferência de Salu que usava da faculdade de falar com ele “entre colunas”.
Mas, amigos da Rede Globo, a partida foi-se arrastando até que, aos 28 minutos do segundo tempo,quando tudo fazia crer num novo empate e na decisão por pênaltis, o sempre oportunista Passarinho marcou o gol consagrador que deu o título até então inédito para o futebol cachoeirano, que naquela partida jogou com: Vadinho, Deca, Zé Fernandes, Balaio e Paiva. O meio de campo com os excelentes Badaró e Mario Codorna, e o quarteto atacante com Tião, Marivaldo, Passarinho e Coqueiro.
A Charanga da Minerva, tão conhecida dos cachoeiranos, encantou a torcida soteropolitana, saindo do estádio tocando o samba “Colher de Chá” (importado daqui do Rio de Janeiro pelo saudoso e gabaritado percussionista Xendengo) para delírio dos torcedores cachoeiranos que cantavam: “Este ano não vai ter colher de chá /Pois Cachoeira está de amargar / Pega a Bola Coqueiro / Passa para Tião / pra Passarinho fazer o gol da Seleção / Este ano, não...”
A chegada da numerosa comitiva cachoeirana à Heroica foi uma verdadeira consagração popular. Jamais havia visto coisa parecida na minha cidade. Da Praça Maciel até a porta da Igreja Matriz, não cabia mais de gente, enquanto os seculares sinos repicavam festivamente, intercalados pelo foguetório interminável. A Charanga tocava uma nova marcha paródia de autoria de Caçulinha de pronto assimilada pela patuléia: “Foi Passarinho / Foi Passarinho / Marcou, marcou, marcou / Um a zero no placar / E Cachoeira foi quem ganhou / Ganhou a taça /Agora somos campeão (sic) / Não chore, Jequié / Não chore / Agora não tem jeito não!/ Foi Passarinho...”
Quando os atletas adentraram (para usar um termo futebolístico) ao templo da Ínclita Padroeira da Cachoeira e dos cachoeiranos, havia no ar um clima de orgulho e uma emoção muito forte se apossou de mim, sempre refém do apego telúrico. Retroagi aos idos de 1822, Fiquei a imaginar como foi o clima de júbilo de nossas avós naquele Te Deum histórico. Continuei divagando. Lembrei-me dos versos do poeta amargosense Sabino de Campos, musicado pelo notável maestro cachoeirano Tranquilino Bastos; ‘Mocidade, vibrante e altaneira, revivei constelada de sóis, toda a glória da nossa Cachoeira!’
No dia seguinte, - ah, por que existe “dia seguinte”? – pude verificar contristado que aquele entusiasmo, aquela fonte de energia positiva havia se dissipado como por encanto, voltando tudo como dantes no Quartel de Abrantes.
|
NA FOTO TIRADA NO CAMPINHO DA GRAÇA EM SALVADOR, APARECE O SELECIONADO CAMPEÃO DO X TORNEIO INTERMUNICIPAL. DA ESQUERDA PARA A DIREITA: GERSON DUARTE (TECNICO), DECA, BADARÓ, VADINHO, ZÉ FERNANDES, BALAIO e PAIVA. (AGACHADOS): TIÃO, MARIVALDO, PASSARINHO, MARIO CODORNA e COQUEIRO. |