Acesse aqui o Google

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CACHOEIRA/BAHIA: MEMÓRIA ESPORTIVA

CACHOEIRA CAMPEÃ DO INTERMUNICIPAL



Por Erivaldo Brito

O campeonato cachoeirano de futebol do ano de 1967 foi, sem dúvida, dos mais interessantes e disputados, devido à inclusão do time do Comercial da vizinha cidade de Muritiba. Com a Cachoeira inscrita para disputar o X Torneio Intermunicipal daquele ano, - volvidos, creiam, 44 anos-, a Comissão Técnica da seleção composta por Erudílho Bastos, -Morenito- e Gerson Duarte, convocou 33 jogadores, (mais adiante em ordem alfabética), que foram devidamente registrados juntos à Federação Baiana: André, Badaró, Balaio, Babão, Careca, Coqueiro, Cal, Carlyles, Cueca, Ceguinho, Caçulinha, Curió, Deca, Emanuel, Juracy, Kid, Luciano, Mario Codorna, Marrom, Marivaldo, Nica, Naguerete, Orelha de Coelho, Passarinho, Paiva, Penedo, Rabicó, Roque Minha Rola, Sacramento, Tião, Vadinho, Zé Melo e Zé Fernandes. A vitoriosa campanha do selecionado cachoeirano se deu da seguinte maneira:

DATAS JOGOS
1967

Dez. 07 Cachoeira 3 x 2 Maragojipe
24 Cachoeira 2 x 1 Nazaré
1968
Jan. 07 Cachoeira 1 x 1 Santo Antonio de Jesus
14 Cachoeira 3 x 0 Cruz das Almas
21 Cachoeira 2 x 2 Maragojipe
28 Cachoeira 5 x 0 Nazaré
Fev. 11 Cachoeira 4 x 0 Santo Antonio de Jesus
18 Cachoeira 1 x 0 Cruz das Almas
Mar. 24 Cachoeira 5 x 1 São Francisco do Conde
31 Cachoeira 2 x 1 São Francisco do Conde
Abr. 07 Cachoeira 1 x 1 Feira de Santana
14 Cachoeira 2 x 2 Feira de Santana
21 Cachoeira 3 x 1 Feira de Santana
28 Cachoeira 0 x 0 Jequié
Mar. 05 Cachoeira 0 x 0 Jequié

Como nos dois jogos realizados entre os dois selecionados, (um disputado em Cachoeira e o outro em Jequié), terminaram empatados sem que houvesse marcado algum gol, a Federação decidiu que, o jogo decisivo seria disputado em campo neutro, no caso, no saudoso campinho da Graça, na capital baiana, no dia 16 de maio de 1968.
Naquele domingo, devido mesmo à proximidade da capital, várias foram as caravanas que saíram da Cachoeira a fim de torcer pelo selecionado, embalado pela Charanga da Minerva Cachoeirana.
A seleção de Jequié, embora carecendo de uma grande torcida a seu favor, era muito bem treinada e possuía valores individuais do quilate de Edmilson, Zé Augusto, Potó, Tanajura e Marcos. Muitos dele se profissionalizaram depois.
Relembrando a partida, lembro que foi disputadíssima, havia chovido uma poça d’água impediu um gol do selecionado cachoeirano, o setor defensivo era muito bom, tinha Deca, Zé Fernandes, Balaio e Paiva, além do excelente goleiro Vadinho. Por falar nele, era um drama a sua liberação para jogar por parte do seu pai, seu Osvaldo, sendo necessária a interferência de Salu que usava da faculdade de falar com ele “entre colunas”.
Mas, amigos da Rede Globo, a partida foi-se arrastando até que, aos 28 minutos do segundo tempo,quando tudo fazia crer num novo empate e na decisão por pênaltis, o sempre oportunista Passarinho marcou o gol consagrador que deu o título até então inédito para o futebol cachoeirano, que naquela partida jogou com: Vadinho, Deca, Zé Fernandes, Balaio e Paiva. O meio de campo com os excelentes Badaró e Mario Codorna, e o quarteto atacante com Tião, Marivaldo, Passarinho e Coqueiro.
A Charanga da Minerva, tão conhecida dos cachoeiranos, encantou a torcida soteropolitana, saindo do estádio tocando o samba “Colher de Chá” (importado daqui do Rio de Janeiro pelo saudoso e gabaritado percussionista Xendengo) para delírio dos torcedores cachoeiranos que cantavam: “Este ano não vai ter colher de chá /Pois Cachoeira está de amargar / Pega a Bola Coqueiro / Passa para Tião / pra Passarinho fazer o gol da Seleção / Este ano, não...”
A chegada da numerosa comitiva cachoeirana à Heroica foi uma verdadeira consagração popular. Jamais havia visto coisa parecida na minha cidade. Da Praça Maciel até a porta da Igreja Matriz, não cabia mais de gente, enquanto os seculares sinos repicavam festivamente, intercalados pelo foguetório interminável. A Charanga tocava uma nova marcha paródia de autoria de Caçulinha de pronto assimilada pela patuléia: “Foi Passarinho / Foi Passarinho / Marcou, marcou, marcou / Um a zero no placar / E Cachoeira foi quem ganhou / Ganhou a taça /Agora somos campeão (sic) / Não chore, Jequié / Não chore / Agora não tem jeito não!/ Foi Passarinho...”
Quando os atletas adentraram (para usar um termo futebolístico) ao templo da Ínclita Padroeira da Cachoeira e dos cachoeiranos, havia no ar um clima de orgulho e uma emoção muito forte se apossou de mim, sempre refém do apego telúrico. Retroagi aos idos de 1822, Fiquei a imaginar como foi o clima de júbilo de nossas avós naquele Te Deum histórico. Continuei divagando. Lembrei-me dos versos do poeta amargosense Sabino de Campos, musicado pelo notável maestro cachoeirano Tranquilino Bastos; ‘Mocidade, vibrante e altaneira, revivei constelada de sóis, toda a glória da nossa Cachoeira!’
No dia seguinte, - ah, por que existe “dia seguinte”? – pude verificar contristado que aquele entusiasmo, aquela fonte de energia positiva havia se dissipado como por encanto, voltando tudo como dantes no Quartel de Abrantes.
NA FOTO TIRADA NO CAMPINHO DA GRAÇA EM SALVADOR, APARECE O SELECIONADO CAMPEÃO DO X TORNEIO INTERMUNICIPAL. DA ESQUERDA PARA A DIREITA: GERSON DUARTE (TECNICO), DECA, BADARÓ, VADINHO, ZÉ FERNANDES, BALAIO e PAIVA. (AGACHADOS): TIÃO, MARIVALDO, PASSARINHO, MARIO CODORNA e COQUEIRO.



Um comentário:

  1. Bom saber dessa historia, principalmente saber que o meu tio fazia parte dela. Saudades.

    ResponderExcluir